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31 de outubro de 2015

Burying The Ex - Um terrir sobre relacionamentos e zombies




Joe Dante, o diretor de clássicos juvenis que a galerinha dos 30 e poucos anos adorava e não perdia na Sessão da Tarde como Gremlins, Viagem Insólita e Meus Vizinhos são um Terror, “evoca” o espírito  - trocadilho intencional, rs - oitentista de suas obras famosas no seu mais recente filme, o desconhecido Burying The Ex (Idem, 2014), um terrir dos mais agradáveis, uma comédia com toques de terror e que homenageia os filmes B desse gênero.


Burying The Ex é uma dessas obras descontraídas e deliciosas para se ver com os amigos ou com a família. Na trama, Max (Anton Yelchin, de Star Trek) é um nerd apaixonado por filmes de terror e que namora Evelyn (Ashley Greene, de Crepúsculo), uma garota irritantemente “ecológica” e esnobe. 



Após Evelyn jurar, diante de um artefato “diabólico”, que eles ficarão juntos para sempre e antes de Max terminar o relacionamento, a moça sofre um acidente e morre, mas este é apenas o começo. Numa cena que referencia Carrie, A Estranha, Evelyn ressurge da cova para continuar até a eternidade a relação com Max, que não gosta nada da versão zombie da sua namorada.


Burying The Ex é bem simples, não deve se levar muito a sério, a história não tem nada de novo e em alguns momentos é muito previsível, mas mostra que Joe Dante, que está há anos sem lançar um filme, ainda mantém em suas obras o espírito juvenil e bem-humorado de seus longas anteriores.



Além de a nostalgia estar estampada em cada frame do filme, as referências ao cinema de horror clássico estão presentes nos diálogos, nos filmes que Max assiste ou nos pôsteres no seu quarto, Burying The Ex também destaca-se pelo elenco, que está bem afinado em cena, principalmente  Yelchin, Greene e Alexandra Daddario (belíssima). 


A produção cumpre bem a sua função como um terrir, distrai e diverte, mas Burying The Ex também é um filme sobre os entraves dos relacionamentos - de qualquer tipo - na era contemporânea,  afinal, a “vida a dois”,  às vezes, pode ser tão assustadora quanto um filme de terror. Assista ao trailer aqui.


NOTA: 7,0

18 de outubro de 2015

A Colina Escarlate - uma história de amor e fantasmas




Guillermo del Toro é, antes de ser um bom contador de histórias macabras, um artista dos mais virtuosos devido a sua habilidade em idealizar cenários sombrios e ao mesmo tempo deslumbrantes, tais elementos são suficientes para ir ao cinema testemunhar suas obras de arte fílmicas, a última delas é A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015), que estreou essa semana.


A Colina Escarlate une o que há de melhor dos dois melhores filmes do cineasta, tem-se aqui o clima de suspense e alguns elementos fantasmagóricos de A Espinha do Diabo e a caprichada e riquíssima direção de arte que lembra O Labirinto do Fauno.  Diante disso, é inegável relatar que a mansão dos Sharpes, personagens de Jessica Chastain e Tom Hiddleston e construída especialmente para o filme, é o maior atributo dessa história de amor e obsessão permeada por fantasmas assustadores, impregnados de uma gosma vermelha e que obviamente já está na lista de criaturas mais horripilantes do cinema de Del Toro. 



Em tempos de remakes de filmes de terror  e de outros que se sustentam em sustos fáceis e imprevisíveis, A Colina Escarlate tem o mérito de ser uma história original do diretor. Os filmes de Guillermo nunca são puramente histórias de terror, A Espinha do Diabo usa como ambiente um orfanato assombrado para contar a história de sobrevivência de um garoto abandonado; já O Labirinto do Fauno, tem como pano de fundo a guerra civil espanhola para narrar a história de uma garotinha que encontra num mundo fantástico um meio de fugir da crueldade humana. 



No novo filme, temos uma história de amor, protagonizada por Mia Wasikowska, que vive Edith, uma jovem aspirante à escritora que se apaixona pelo misterioso Thomas (Hiddleston). Uma série de acontecimentos, que não vale citar aqui, levam os dois a mudarem para uma mansão macabra habitada por seres terríveis e pela gélida Lucille, interpretada por Jessica Chastain, em mais uma atuação magnífica.


Apesar das incontáveis qualidades, A Colina Escarlate tem um roteiro arrastado inicialmente, e peca pela previsibilidade em alguns momentos, mas ainda assim, é uma obra soberba feita por um gênio inigualável do universo fantástico e maior expoente do gênero de horror atual.


NOTA: 8,0

12 de outubro de 2015

A Travessia - uma experiência vertiginosa




A façanha de Philippe Petit, ao atravessar as Torres Gêmeas equilibrando-se apenas em um cabo, se tornou inegavelmente um dos momentos mais desesperadores do cinema, de um jeito que ficamos rezando para que tudo acabe logo. Essa proeza é contada em A Travessia (The Walk, 2015), dirigido por Robert Zemeckis.

Esta história verídica já rendeu o documentário O Equilibrista e agora se torna um longa-metragem pelas mãos de Zemeckis, um contador de histórias especialista em dramas de superação e que a gente conhece muito bem como Forrest Gump, Náufrago, O Voo.

Em A Travessia, Joseph Gordon-Levitt vive o equilibrista que tem um sonho insano e a princípio impossível: atravessar as Torres Gêmeas andando em um cabo, sem nenhuma forma de segurança, fato realizado no ano de 1974, quando os edifícios ainda não estavam totalmente prontos.


Com um cabelo esquisito, lentes de contato e um sotaque francês que convence, Gordon-Levitt – de grandes obras como A Origem e de outras pérolas menos conhecidas que merecem a sua atenção como 50%,  Hesher – Juventude em Fúria e Perigo por Encomenda) mostra mais uma vez que é um excelente e dedicado ator. 

O filme mostra de forma breve a juventude de Petit, suas apresentações nas ruas e em parques de Paris e os seus treinos no circo com o mentor Papa Rudy (Ben Kingsley). Junto com alguns “cúmplices” que vão entrando na vida do Petit ao longo de sua jornada, como a Annie (Charlotte Le Bon), seu interesse amoroso e o amigo fotógrafo Jean-Louis (Clèment Sibony), Petit chega à Nova York e aí tem início todo o árduo processo de concretização de seu sonho, que inclui o entra e sai das torres, a colocação dos cabos e os muitos problemas que surgem e ameaçam o plano do artista.


Com muito bom humor, Zemeckis conta menos sobre o personagem em si e foca mais na elaboração do plano,  mas não deixa a história menos “humana” e só faz aumentar a nossa expectativa em relação ao clímax, aquele grande momento que todos esperam. E quando chega a hora e Petit põe o primeiro pé no cabo, a aflição começa, a sequência é agonizante e vertiginosa – principalmente se você ver o filme numa tela IMAX e em 3D.

 A Travessia não é a melhor obra de Zemeckis, tem suas imperfeições, como o detectável chroma-key em alguns momentos e que tiram todo o brilho e a beleza das cenas, mas a recriação das Torres Gêmeas é impressionante. 


Para resumir, o filme de Zemeckis funciona tanto para retratar a proeza de Philippe Petit quanto para homenagear a cidade de Nova York e as Torres Gêmeas e mostrar que ali, também foi palco de boas histórias, em vez de aparecerem como “vítimas”, as torres foram “cúmplices” de um dos momentos mais fantásticos e ousados já feitos pelo homem.

NOTA: 7,5

4 de outubro de 2015

O retorno de Les Revenants – A vida após a morte





Há dois anos o mundo conhecia e se deslumbrava com a série francesa Les Revenants, baseada em um filme de 2004, de mesmo nome, dirigido por Robin Campillo. Exibida originalmente em 2012 no canal Plus, o seriado de mistério e suspense, adaptado por Fabrice Gobert, narra o drama de uma população de uma cidadezinha em meio às montanhas que recebe a visita de alguns moradores “mortos” anos atrás, que resolvem voltar para casa após a “ressurreição”. Três anos depois, finalmente Les Revenants estreou a sua segunda temporada. E o que se pode afirmar a partir dos dois primeiros episódios, exibidos na semana passada, é que a série continua instigante e tão fria e assombrosa quanto um cadáver.


A história do segundo ano inicia seis meses após os acontecimentos do final da primeira temporada, que inclui o desaparecimento de alguns “ressuscitados” e vivos e a inundação da cidade. Já no primeiro episódio, acompanhamos Adèle (Clotilde Hesme), grávida de Simon (Pierre Perrier),  o seu namorado “morto”, sangrando e sendo levada por uma ambulância por uma estrada que já não leva a lugar algum. Esse é um dos muitos mistérios da série, os moradores não conseguem mais sair da cidade.



É muito difícil falar de Les Revenants sem dar spoilers, então, serei o mais o mais genérico possível, sem me ater a detalhes importantes da trama. Na nova temporada, a cidadezinha “fantasma” continua com locais inundados e cercada por militares que tentam descobrir o que aconteceu ali e desvendar o mistério da barragem.


Também na atual temporada, um homem chamado Berg chega à cidade com um ar de quem sabe mais do que aparenta, além disso, novas ressurreições acontecem e o mistério sobre os “retornantes” só faz aumentar, pois a cidade agora está povoada por vivos e por "mortos", que  multiplicam-se cada vez mais.



O desafio de Les Revenants nesses novos oito episódios é nos dar ao menos algumas respostas sobre os muitos mistérios que recheiam a trama, o primeiro episódio já esclareceu alguns pontos, mas continuam aqueles mistérios que envolvem o bebê de Adèle, a origem do poder de Victor (Swann Nanbotin) - o garoto que arrepia a gente só de olhar – e o fato de os habitantes não poderem sair da cidade, mesmo que sempre tenha gente chegando ali. E claro, a questão maior: por que eles "voltaram"?


O retorno de Les Revenants atendeu às minhas expectativas e trouxe de volta aquela atmosfera sombria e inigualável, bela e aterrorizante na mesma proporção.  Tudo na série é de arrepiar, a ambientação, os cenários, os personagens, a trilha sonora de Mogwai. A harmonia entre esses elementos é tão perfeita que nenhum remake - e olhe que houve muitos, todos fracassaram – pode copiar.



No primeiro episódio, um dos momentos mais intrigantes é aquele em que um alce caminha pela cidade. Uma das características da série é falar com o público utilizando-se de imagens impactantes e o mínimo de diálogos. Ah, há tanto para se aprender com as produções francesas...

Les Revenants foi exibida no Brasil pelo canal HBO Max, mas a nova temporada ainda não há data de estreia. E se você ainda não viu a primeira temporada, saiba que esta é uma dessas séries imperdíveis, para se ver antes de morrer.



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