É sabido que o estado de São Paulo foi durante décadas o
destino preferido de cidadãos nordestinos, o fluxo era tanto que São Paulo ganhou
o título de maior capital nordestina do Brasil. Embora nos últimos anos esteja
ocorrendo o movimento inverso - muitos estão voltando às suas origens - a
presença de pernambucanos, cearenses e baianos na região ainda é
significativa. O elogiado filme Que Horas Ela Volta? (2015) faz um
recorte dessa realidade por meio da história da doméstica Val (Regina Casé),
que assim como muita gente desse Brasilzão, deixou o lugar de raízes e foi para
São Paulo em busca de melhores condições de vida.
Na história de Que Horas Ela Volta?, a pernambucana Val
trabalha na casa de uma família de classe média, não vê a filha há 10 anos, mas tem na figura do Fabinho (Michel Joelsas),
filho de seus patrões, a chance de ter uma relação maternal.
A chegada da filha Jéssica (Camila Márdila), que vai a São
Paulo para prestar vestibular, provoca um furacão de emoções envolvendo a sua
mãe e também os patrões, o depressivo solitário Carlos (Lourenço Mutarelli) e a
megera falsa Bárbara (Karine Telles), figura muito fácil de se encontrar por
aí no nosso dia a dia....
A diretora Anna Muylaert realizou uma obra simples, emocionante,
sensível e muito transformadora do ponto de vista de quem a
assiste. Além disso, o filme tem o mérito de não cair nas armadilhas do clichê,
por se tratar de uma história envolvendo personagens de classes sociais
distintas habitando o mesmo mundo, pois o embate patroa x doméstica não é novidade
para ninguém, já foi bastante discutida nas novelas brasileiras, no cinema, o
chileno A Criada é um dos exemplares
que muito tem em comum com Que Horas Ela Volta?.
As atuações inspiradas de Regina Casé - que sempre foi
talentosa, lembram do filme Eu Tu Eles? –
encarnando uma nordestina sem cair no estereótipo ou “ofender” o povo
representado e da intérprete de sua filha, Camila Márdila, são o maior trunfo da película, elas são responsáveis por provocar reações diversas no espectador, o
desconforto de Jéssica, por exemplo, por estar vivendo em uma casa de estranhos,
é sentido por nós de forma profunda.
Com doses bem equilibradas de drama e humor, Que Horas
Ela Volta? apresenta situações vividas por pessoas comuns, suscetíveis a erros, com seus medos e arrependimentos
particulares e de pessoas como a Val, uma mulher forte, batalhadora, sonhadora e que
descobre que nunca é tarde para desfrutar das coisas simples da vida, momento representado na cena em que ela adentra na
piscina e sente-se a pessoa mais realizada do mundo. Um inspirador e belíssimo momento!
NOTA: 9,0
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