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8 de novembro de 2015

Que Horas Ela Volta?




É sabido que o estado de São Paulo foi durante décadas o destino preferido de cidadãos nordestinos, o fluxo era tanto que São Paulo ganhou o título de maior capital nordestina do Brasil. Embora nos últimos anos esteja ocorrendo o movimento inverso - muitos estão voltando às suas origens - a presença de pernambucanos, cearenses e baianos na região ainda é significativa. O elogiado filme Que Horas Ela Volta? (2015) faz um recorte dessa realidade por meio da história da doméstica Val (Regina Casé), que assim como muita gente desse Brasilzão, deixou o lugar de raízes e foi para São Paulo em busca de melhores condições de vida.

Na história de Que Horas Ela Volta?, a pernambucana Val trabalha na casa de uma família de classe média, não vê a filha há 10 anos,  mas tem na figura do Fabinho (Michel Joelsas), filho de seus patrões, a chance de ter uma relação maternal.


A chegada da filha Jéssica (Camila Márdila), que vai a São Paulo para prestar vestibular, provoca um furacão de emoções envolvendo a sua mãe e também os patrões, o depressivo solitário Carlos (Lourenço Mutarelli) e a megera falsa Bárbara (Karine Telles), figura muito fácil de se encontrar por aí no nosso dia a dia.... 

A diretora Anna Muylaert realizou uma obra simples, emocionante, sensível e muito transformadora do ponto de vista de quem a assiste. Além disso, o filme tem o mérito de não cair nas armadilhas do clichê, por se tratar de uma história envolvendo personagens de classes sociais distintas habitando o mesmo mundo, pois o embate patroa x doméstica não é novidade para ninguém, já foi bastante discutida nas novelas brasileiras, no cinema, o chileno A Criada é um dos exemplares que muito tem em comum com Que Horas Ela Volta?. 


As atuações inspiradas de Regina Casé - que sempre foi talentosa, lembram  do filme Eu Tu Eles? – encarnando uma nordestina sem cair no estereótipo ou “ofender” o povo representado e da intérprete de sua filha, Camila Márdila, são o maior trunfo da película, elas são responsáveis por provocar reações diversas no espectador, o desconforto de Jéssica, por exemplo, por estar vivendo em uma casa de estranhos, é sentido por nós de forma profunda.

Com doses bem equilibradas de drama e humor, Que Horas Ela Volta? apresenta situações vividas por pessoas comuns, suscetíveis a erros, com seus medos e arrependimentos particulares e de pessoas como a Val, uma mulher forte, batalhadora, sonhadora e que descobre que nunca é tarde para desfrutar das coisas simples da vida, momento representado na cena em que ela adentra na piscina e sente-se a pessoa mais realizada do mundo. Um inspirador e belíssimo momento!

NOTA: 9,0

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