Já é um fato. Sense8, nova série da Netflix, já pode ser
considerada a redenção das irmãs Lilly e Lana Wachowski, que desde o fim da
trilogia Matrix, vem colecionando desastres cinematográficos em termos de
crítica e bilheteria, como o ruinzinho O Destino de Júpiter. Ousada,
libertadora, intrigante e envolvente, Sense8 é incomparável e mostra que as
diretoras sabem construir uma história apoiada em personagens fortes sem
precisar de pirotecnias e efeitos especiais, marca registrada da maioria de
suas produções, além dos já citados acima, incluo ainda o morno A Viagem e o estonteante Speed Racer.
Em se tratando das Wachowski nada é tão simples assim, sempre
em seus projetos há um pouco de rebeldia, um desejo de fazer algo inovador e de
sempre superar um projeto anterior. Em Sense8, a ambição não está nos efeitos
visuais, mas na múltipla narrativa, que envolve oito personagens, cada um deles
em um canto do mundo e sem relação alguma. É claro que todos eles terão suas
vidas unidas em algum momento, pois eles têm algo em comum. E aí reside o
desafio das cineastas, contar uma história ambientada em locações reais de diversas cidades ao redor do mundo. Imagine o trabalho de logística que tiveram.
Um ator mexicano que esconde um romance amoroso. Uma coreana
executiva que luta vale tudo. Uma DJ islandesa. Um arrombador de cofres alemão.
Uma indiana farmacêutica com o casamento arranjado. Um motorista de van e fã do
Van Damme em Nairóbi. Um policial em Chicago. Uma transexual em São
Francisco. Todos eles são sensates, uma
espécie evoluída de seres humanos que tem o dom de compartilhar sentimentos,
lembranças e habilidades entre eles.
Sense8, como se pode perceber, é uma série multicultural e
uma das principais qualidades do seriado é a abordagem honesta e sem exageros
de tantas culturas distintas. Não vou me ater à história, veja por si mesmo,
mas digo que os oito personagens são apaixonantes e cada um deles tem uma
história que nos envolve profundamente. Me encanta a trama da transexual
Nomi e a caliente narrativa do astro de ação, Lito.
Além das Wachowski, que dirige a maioria dos 12 episódios da
primeira temporada, os cineastas Tom Tykwer (Corra Lola, Corra) e James
McTeigue (V de Vingança) também colaboram na direção. Com um roteiro das irmãs
em conjunto com J. Michael Straczynski (Guerra Mundial Z), Sense8 tem momentos
inesquecíveis, alguns catárticos e violentos – como todas as sequências de luta
que envolve Sun ou o motorista de Nairóbi, a cena de Lito “evocando” o Neo de
Matrix numa cena destruidora de ação, outros incrivelmente picantes, como o
sexo “grupal” entre alguns sensitivos e ainda há aqueles momentos emocionantes
e inexplicáveis, como o karaokê coletivo com a música What´s Up, clássico da 4 Non
Blondes - veja a cena abaixo - e o nascimento dos sensitivos ao som de uma ópera.
Sense8 é ambiciosa e ao mesmo tempo simples, seu enredo flui
de forma orgânica, sem reviravoltas grandiosas e incoerência. A questão
principal aqui são os personagens, os assombros do passado, o medo do futuro
desconhecido e incerto e a “descoberta” da necessidade de ajudar um ao outro.
Lito e Wolfgang: vai uma ajudinha ai?
O elenco é quase totalmente desconhecido, exceto por Naveen
Andrews de Lost e Daryl Hannah de Kill Bill. Miguel Ángel Silvestre (Lito) foi
visto em Os Amantes Passageiros; Doona Bae (Sun) esteve nos filmes A Viagem dos
Wachowski e em O Hospedeiro; Aml Ameen (Capheus) participou de Maze Runner:Correr ou Morrer; Jamie Clayton (Nomi) esteve na série Transform Me; Tina Desai
(a inidiana Kala) atuou em O Exótico
Hotel Marigold 1 e 2; Brian J. Smith (Will Gorski) tem o currículo mais
extenso, participou de séries como Defiance, The Good Wife, Gossip Girl e SGU
Stargate Universe; Tuppence Middleton (Riley) esteve em O Destino de Júpiter e
O Jogo da Imitação; entre todos esses, o mais conhecido para mim é o alemão Max
Rielmet (Wolfgang), eu já o tinha visto no intenso drama Queda Livre (Freier Fall), no qual vive um romance
homossexual tórrido.
Os 8 "sensates"
Sense8 é perfeita, a melhor obra das Wachowski em anos, digna
de todo o reconhecimento da crítica e do público, é hora de nos esquecermos de
todos os tropeços que as irmãs cometeram no passado, Lana e Lilly reencontraram
o tom e a “inspiração” na telinha. Acho que este é o momento de darem um tempo das
megaproduções cinematográficas. Por fim, a
sensação que fica após ver toda a primeira temporada de Sense8 é que a
série da Netflix é a materialização das ideias de seus criadores em sua forma
mais pura e cristalina.
Confira um dos grandes momentos da série:
NOTA: 10,0
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