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29 de março de 2015

Banana – A série que celebra o amor e o sexo sem rótulos




Banana. O título e  o pôster aí são bem sugestivos, não é? Errou se você pensou que este post é sobre uma série gastronômica (rs). Banana é um seriado gay britânico e de autoria do Russell T. Davies, o mesmo criador de Queer as Folk, a série gay mais cultuada e bem-sucedida a abordar este universo. 


Banana não é uma obra isolada, ela vem acompanhada de duas outras séries que têm personagens interligados, Cucumber (pepino em português!!!) e Tofu Cucumber discute os dramas dos homens mais maduros, a  trama é focada em Henry, um homossexual de meia-idade, mas ainda perdido na vida. Já Tofu é um documentário exibido na plataforma on demand do Channel 4 e mostra pessoas falando abertamente sobre sexo.  Cucumber não me conquistou e Tofu, eu não vi, já Banana, a parte dedicada aos dramas exagerados da juventude, muito me agradou.


Obs.: Os títulos curiosos das séries são baseados em um estudo científico que classificou a ereção masculina conforme a sua rigidez e que segue exatamente essa ordem – Tofu, Banana e Pepino (!!!!). Então...


O jovem elenco reunido

A primeira temporada de Banana tem oito episódios  - já exibidos no Reino Unido - e duram em média, 22 minutos. A série ainda segue o estilo da ótima e irreverente Skins, é uma antologia, ou seja, cada episódio é dedicado a um personagem específico.


Assim como Skins e outras séries teens do canal E4, Banana é crua e realista, narra os dramas de jovens gays e lésbicas sem maquiagem, de forma escancarada, irreverente e sem receio algum em explorar temas sensíveis ou mostrar cenas explícitas de sexo.

  Aiden, Helen e Josh: personagens dos episódios 7, 4 e 5 respectivamente


Como o episódio dura em média 20 minutos, a história e o personagem principal precisa nos conquistar na metade desse tempo, e nisso, o roteiro de Banana é muito eficiente. Há personagens que nos cativam em menos de cinco minutos. São oito boas e envolventes histórias, mas há aquelas que se destacam e nos surpreendem, como o episódio chocante em que uma transsex é perseguida pelo ex-namorado e tem sua intimidade exposta na internet.  

O episódio em que uma garota se apaixona por uma mulher madura e casada é muito bonito e tocante. Outro capítulo marcante e muito poético é o da personagem Amy, uma jovem estilosa mas com alguns transtornos, ah e ainda tem o episódio 7, no qual Frank, um rapaz fazendeiro fora dos padrões de beleza estabelecido pela sociedade (gay), se encanta pelo bonito e garanhão Aiden, que está mais interessado em corpos perfeitos e aventuras sexuais passageiras com estranhos. As histórias podem ser pessimistas demais, em alguns casos, mas a vida não é sempre um mar de purpurina, não é?


Apresentar a sexualidade do ponto de vista dos jovens é o grande mérito de Banana, com personagens intensos e contos que nos suscitam a reflexão. A série diverte e celebra o amor e o sexo sem rótulos, de um jeito muito peculiar e com aquela inquietação boa e típica da juventude.





NOTA: 9,0


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Skins - Uma série imperdível

The Rover – A Caçada






Em um mundo pós-apocalíptico, dois homens foras da lei transitam em um cenário desértico desolador numa perseguição violenta e angustiante no filme The Rover – A Caçada (The Rover, 2014), último trabalho do diretor David Michôd, responsável pelo brutal Reino Animal


Guy Pearce (do excelente Os Infratores) e Robert Pattinson estrelam esse western australiano, cuja trama é simplória. Um homem (Pearce) tem seu carro roubado por uma gangue e toma como refém o irmão (Pattinson) de um dos criminosos. Juntos, partem no encalço da gangue. 


A relação entre os dois homens é cercada de tensão a todo o momento e de poucas palavras. Enquanto o personagem de Pearce faz o tipo explosivo e imprevisível, Pattinson é o retrato da inocência que foi arruinada pelo colapso que o mundo sofrera, é um criminoso meio dissimulado, mas tem bom coração. Ambos os personagens são desconfiados, por isso, nunca prevemos suas ações, também pudera, no mundo em que eles vivem, as leis inexistem.

 Pearce vive um homem destemido e explosivo


A saga dos dois homens que não têm nada a perder não seria menos desconfortável sem o cenário em que transitam. Na visão de Michôd, o mundo pós-colapso tem o calor e o sol escaldante do deserto australiano, corpos pendurados nas estradas e os poucos habitantes que restaram se escondem dentro de suas casas com um olhar vazio, como se desejassem a morte. 

  Pattinson: sujo e com sangue nas mãos


The Rover traz atuações impecáveis de Pattinson e Pearce. O ex-Edward Cullen encara um papel desafiador, não muito agradável e fisicamente muito diferente de seu antigo personagem “vampiro”, com direito a um corte de cabelo horrível e dentes nojentos.  Já Guy Pearce, bom, é aquele ator que sempre está ótimo em qualquer filme, mas  que ainda não teve seu talento reconhecido, ao menos, pelos gigantes da indústria do cinema. Por fim, The Rover – A Caçada é uma obra fílmica ímpar que merece ser mais apreciada.  Assista ao trailer.


NOTA: 8,0


22 de março de 2015

Glee - A série que mostrou que ser diferente é legal chega ao fim




“Glee é sobre abrir a si mesmo para a felicidade” , diz uma personagem no último episódio de Glee e foi justamente este sentimento que a série provocou no público nas seis temporadas. A produção da Fox marcou e mudou vidas de uma geração e mostrou aos jovens razões de ser diferente e aceitar a si mesmo, mais que isso, alegrou a vida de muita gente - incluso a minha - com muita música boa.

Após seis anos, Glee (2009-2015) terminou esta semana nos EUA e deixou a sua marca na história da TV. A comédia/drama musical se sobressaiu pela coragem e ousadia de tratar temas fortes e polêmicos como o bullying, homossexualidade e gravidez na adolescência para uma audiência bem jovem, mas a partir de um roteiro muito adulto para o público ao qual se destinava.  Se hoje há mais abertura para personagens gays nos seriados americanos, Glee contribuiu bastante nessa questão. 

O coral canta Don´t Stop Believin: O início de  tudo

Com um elenco sincronizado e incrivelmente talentoso, personagens cativantes, músicas populares e um humor irônico e tão sádico a ponto de tirar sarro até do próprio universo da série, a criação de Ryan Murphy conquistou a todos de imediato. A estreia aconteceu em 2009 e assistindo aos dois últimos episódios é impossível dizer Adeus e não se emocionar. Vendo os últimos capítulos, recordei do início da série, me lembro onde eu estava seis anos atrás, dos meus sonhos naquela época e percebo que muitos deles eu não alcancei,  percebo que hoje, tenho planos distintos daqueles que eu tinha, mas como diz aquela música: "Don´t Stop Believin".

Sobre as temporadas, bem, é certo dizer agora que o autor Ryan Murphy não consegue manter a qualidade de uma história por muito tempo, mesmo que ela tenha ótimos personagens e uma premissa com bastante potencial. Glee foi vítima dessa “inabilidade” de Murphy. Consciente do seu problema com enredos a longo prazo, Ryan teve a ótima ideia de criar uma série de terror chamada American Horror Story, com uma história que se limitava a apenas 13 episódios. Foi bom durante os primeiros anos, mas a  julgar pela fraca temporada de Freak Show, ele já está perdendo a “mão” aí. Mas eu gosto do Ryan, ele é inteligente, corajoso e mais importante, muito criativo.  

Lea Michele homenageia Britney Spears

Bem, voltando a Glee, as duas primeiras temporadas foram excelentes, cheio de momentos antológicos como o Kurt dançando Single Ladies no estádio de futebol, o  seu primeiro beijo, os episódios especiais de Madonna e Britney Spears, sem falar na homenagem ao filme The Rocky Horror Picture Show - que eu nem sabia de sua existência até ver o episódio. No entanto, a ideia de colocar novos personagens no Glee Club não agradou o público e a partir da terceira temporada Glee virou uma bagunça, histórias mal desenvolvidas e preguiçosas e para piorar, a morte trágica de Corey Monteith deixou todos os produtores sem saber o que fazer com o universo glee. A sexta e última temporada tirou os veteranos de Nova York e colocou-os de volta no McKinley High School e nos trouxe aqueles bons e divertidos episódios novamente, além de um desfecho perfeito e emocionante.

A respeito das músicas. Ah, as músicas. As versões de Glee, ás vezes, eram até melhores que as originais. Quanta cultura musical eu absorvi, quantos artistas eu conheci através da série e quantas bandas ficaram conhecidas mundialmente depois que suas canções ganharam  as vozes do clube do coral, como a  banda indie Fun., por exemplo, dona do hit We Are Young.  



Alguém conhecia o Journey aí? Pois é, Don´t Stop Believin  do Glee chegou ao topo das paradas e ninguém conhecia a versão original do grupo dos anos 80, não importa, a versão do coral até hoje encanta e emociona.  A sequência com a música Bohemian Rhapsody até hoje me arrepia, ainda me divirto muito com o clipe de Run Joey Run e a coreografia sensual  de Push it,  adoro o mashup  de Rumor Has It/Someone Like You da Adele, a linda versão de Keep Holding On – versão original é da Avril Lavigne mas ninguém sabia -  e a já clássica versão de Sue Sylvester para Vogue, da Madonna. Bom, impossível descrever tantos momentos inesquecíveis aqui.

Os personagens eram o maior trunfo do seriado. Um grupo de desajustados e “perdedores” que rapidamente me encantou: o deficiente físico Artie Abrams (Kevin McHale), a gótica Tina (Jenna Ushkowitz), a loira burra Brittany (Heather Morris), a negra com vozeirão Mercedes (Amber Riley), o sofisticado e gay Kurt Hummel (Chris Colfer), o quarterback popular e grandalhão Finn Hudson (Cory Monteith) e tantos outros. Mas o que segurou mesmo a série nos seus momentos mais difíceis foram o carisma e o apego a personagens como a irritante/egoísta e aspirante a diva Rachel Berry (Lea Michele) e a impagável e sádica vilã Sue Sylvester (Jane Lynch), sempre com seus comentários ácidos e nonsenses. Glee conquistou o público principalmente por valorizar e mostrar perfis não populares e excluídos da sociedade -  gays, japoneses, cadeirantes, gordos -  e ofereceu a eles um olhar otimista sobre a vida. 

Adeus: elenco se reúne para a última foto

A série inovou  em seu formato e vai deixar saudades por tudo o que significou para TV - trouxe o gênero musical de volta ao mainstream, abrindo caminho para séries semelhantes como a ótima Empire, atual sucesso da Fox americana - e  principalmente para a audiência, os 45 minutos de duração do episódio significavam mais que um simples momento de escapismo, era um instante de alegria, um sopro de esperança, um afago para toda a audiência, especialmente para aqueles desajustados que se viam representados ali dentro do seriado.

E a última performance foi assim:




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