O aspecto que mais chamou a minha atenção no elogiado filme
do mexicano Alejandro González Iñárritu, Birdman ou A Inesperada Virtude da
Ignorância (Birdman, 2014), foi o senso de humor dos personagens. Se você
conhece a filmografia do cineasta, sabe que em seus filmes anteriores não há
espaço para gracinhas, Babel, 21 Gramas e Biutiful, por exemplo, são muito
sérios e dotados de forte carga emocional.
Com nove indicações ao Oscar 2015, Birdman alfineta o cinema
de entretenimento e se caracteriza por ser tecnicamente impecável e ter um
elenco respeitado, porém, mostra-se uma obra autêntica e ousada demais para a
Academia - acho difícil (não impossível) levar o Oscar de Melhor Filme.
Birdman narra a história de Riggan Thomson (Michael Keaton),
um ator que no passado alcançou a fama e o reconhecimento por interpretar o
super-herói Birdman no cinema. Agora, vive no ostracismo, assombrado pelos
antigos dias de prestígio e por uma voz perturbadora, e enquanto afoga-se em
crises existenciais, o protagonista tenta mostrar o seu talento nos palcos de
um teatro. É inevitável não comparar a trajetória de Thomson com a carreira de
Keaton, que após viver o Batman nos anos 80 e 90, caiu no esquecimento geral.
Thomson é perseguido pelo passado
Keaton está perfeito, entrega-se totalmente ao papel, o ator
nunca esteve tão perto de ganhar um Oscar na sua vida. Ainda completa o elenco, Edward Norton, que vive um
canastrão irritante que atormenta a vida de Thomson, sabotando a peça sempre
que há uma oportunidade. Naomi Watts, que já trabalhou com Iñárritu em 21
Gramas, é uma atriz sem autoestima. Emma Stone interpreta a filha ex-viciada de
Thomson, e por fim, tem Zach Galifianakis (Se Beber, Não Case) irreconhecível
em um papel que não lembra nada o atrapalhado barbudo da comédia de sucesso.
Além de atuações formidáveis de todo o elenco, Birdman tem
maior acerto nas escolhas técnicas feitas pelo diretor. A câmera flutuante e os
longos takes possibilitam o público adentrar no mundo dos bastidores da
Broadway. É quase como estivéssemos ali vivenciando junto com os personagens todos
os dramas e as situações hilárias. A trilha sonora, composta por solos de
bateria nervosos, incomoda em certo momento, mas o ruído é essencial quando se
pretende criar momentos de tensão.
Atuações marcantes de Norton, Stone e Keaton
O humor negro presente no roteiro, a junção da realidade com
a fantasia, além de um otimismo surreal - ausente na filmografia do diretor - faz
de Birdman uma obra legítima, distinta de todos os outros trabalhos do
Iñárritu. Portanto, a história rende-se a clichês que minimizam o brilho do
longa acentuando assim a sua imperfeição. Como por exemplo, a personagem que escreve
críticas sobre as produções da Broadway, cuja opinião decidirá o sucesso ou não
de um produto cultural, foi uma escolha equívoca e óbvia demais. Tal figura é digna
de comédias bobas adolescentes, não de uma obra do calibre do mexicano.
Mesmo com pequenos, mas significativos equívocos, Birdman
cumpre com louvor a sua principal proposta, analisar e criticar escancaradamente a indústria do cinema, acusada aqui por priorizar os remakes,
sequências e filmes de heróis e de oferecer ao público o que ele realmente
deseja: mais caos e destruição e menos diálogos. E não é verdade? Confira o trailer.
NOTA: 8,0
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