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22 de maio de 2014

Praia do Futuro - O filme polêmico do ano



 
Uma história profunda e humana sobre a perda na vida de três homens, este é Praia do Futuro (2014), novo longa do cearense Karim Ainouz, responsável também pelos elogiados Madame Satã e O Céu de Suely.


Orquestrado de forma que as imagens e atitudes dos personagens dizem mais que os (poucos) diálogos, Ainouz traz à tela a história de Donato (Wagner Moura, muito à vontade no papel, inclusive nas cenas de sexo e nudez), um salva-vidas que atua na tal praia do título situada em Fortaleza. O início do filme já mostra Donato perdendo para o mar, ao não conseguir salvar um homem do afogamento. O ocorrido faz com que ele conheça o alemão Konrad (Clemens Schick, o ator participou de Cassino Royale), amigo da vítima, a quem o salva-vidas vai levar a má notícia.


Logo após a conversa entre eles, abruptadamente somos surpreendidos com a cena seguinte, um momento de sexo agressivo entre dois homens másculos e claramente bem resolvidos sexualmente. Impressionado, eu disse, não pela cena em si, mas pela forma natural com a qual o diretor decidiu abordar esta relação na telona. Ao invés de seguir o caminho óbvio, mostrar momentos de sedução entre os protagonistas antes do sexo, Karin espertamente preferiu “pegar” o espectador “no pulo” ao mostrar de cara, o ato físico cheio de testosterona e desejo entre eles. 

 Uma das cenas marcantes do longa


Donato e Konrad então iniciam um romance e ambos se mudam para a Alemanha. Donato então troca a ensolarada Fortaleza pela gelada e enevoada Berlim.  Praia do Futuro é dividido em três capítulos no qual acompanhamos o deslocamento do salva-vidas numa cidade sem praia, o sufoco da sua nova vida e a culpa que carrega consigo por ter abandonado sua mãe e seu irmão Ayrton, vivido por Jesuíta Barbosa (Tatuagem). 


Praia do Futuro é uma obra bastante introspectiva, daquelas que o espectador precisa se colocar no lugar do personagem para entender suas motivações e seus sentimentos, e como já disse antes, é bom prestar muita atenção no estado de espírito dos protagonistas e decifrá-los, pois não haverá diálogos para esclarecer tudo, como por exemplo, a cena em que os dois cantam e dançam é de uma beleza ímpar e demonstra o quanto eles estão felizes um com o outro.  Pra que palavras?


Com muita sutileza, o diretor fala sobre a reconstrução do homem, ou melhor, a reconstrução de uma vida, que no caso de Donato, tal transformação foi movida pelo medo, e no caso de Ayrton, seu irmão, movido pela coragem. 

 O elenco: Schick, Barbosa e Moura


A linda fotografia que contrasta o azul de Fortaleza e o cinza de Berlim, a predileção pelo visual em vez do verbal, a preferência por longos planos sem cortes e as muitas cenas marcantes como a do reencontro dos irmãos e a sequência final dos três homens viajando de moto desaparecendo em meio a uma densa névoa fazem de Praia do Futuro, uma obra humanizada e delicada, com um roteiro tão abstrato que chega a ser inadequado para o público que “urra de prazer” ao ver um Velozes e Furiosos ou Jogos Mortais, e deve ser exatamente esse tipo de gente que saiu do cinema “chocado” ao ver as cenas de sexo entre Wagner Moura e Clemens Schick. Olha, há cenas mais picantes que estas protagonizada por Lázaro Ramos em Madame Satã, e ninguém se deu conta né!


Homofobia e ignorância à parte - isso é assunto do meu próximo post – apenas espero que toda essa polêmica sirva para levar mais pessoas, esclarecidas espero, às salas de cinema e fazer de Praia, um filme de sucesso.


NOTA: 8,0

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