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27 de maio de 2014

CUIDADO: Filmes gays em cartaz!





Desinformação, machismo, homofobia, intolerância, junta tudo isso e mistura, o resultado foi a polêmica envolvendo o drama Praia do Futuro no qual espectadores saíram da sala do cinema ao ver o “viril Capitão Nascimento” fazendo sexo com outro homem. O cara que sai da sala por ter medo de ver uma cena de sexo entre homens precisa ir correndo pra terapia”, comentou o crítico de cinema e diretor Pablo Villaça, concordo com ele.


Realmente não entendo a polêmica e o comportamento das pessoas que saíram da sessão e muito menos daquelas que reagiram carimbando o ingresso com um aviso sobre as tais cenas. Que mundo eles vivem? Que país é esse? Este não é o primeiro filme - e nem vai ser o último - que têm cenas de amor entre homens. Praia do Futuro está aí para comprovar o quanto retrógrado e machista é o Brasil, mas a polêmica também mostrou o outro lado, o apoio à campanha #homofobianãoéanossapraia promovida pela produção do longa de Karim Ainouz tem sido um sucesso retumbante, o que demonstra que nem tudo está perdido neste país de (muita) gente de mentalidade rasa e hipócrita.


Por apoio à causa, resolvi listar cinco bons filmes que retratam o amor entre homens ou entre mulheres de forma pura e escancarada, humana e realista. AVISO: Os filmes contêm cenas de sexo! Rs.




Um Estranho no Lago (2013) – Aqui há cenas explícitas de sexo entre homens - e que pode surpreender a quem não está familiarizado com o gênero - mas que não soam pornográficas em nenhum momento, mas bastante naturais. Este filme francês é um suspense cuja locação é uma só: os arredores de um lago onde homens ficam nus, tomam banho de sol e procuram aventuras sexuais com desconhecidos. Franck (Pierre Deladonchamps) é um desses banhistas que frequenta o lago, entre flertes ali e acolá, o homem testemunha um assassinato  perpetrado justamente pelo cara pelo qual está atraído. Um suspense bem orquestrado e que te deixa aflito todo o tempo por nunca saber o que vai acontecer com o protagonista.



Queda Livre (Freier Fall, 2013) – Considerado a versão alemã de O Segredo de Brokeback Mountain, Queda Livre narra a aventura amorosa complicada entre dois policiais, sendo um deles casado com uma mulher. Apesar do machismo está presente na vida dos dois homens, o relacionamento entre Marc e Kay (Max Riemelt, o Wolfgang de Sense8) é inevitável e a atração que sentem um pelo outro é maior do que o medo de serem descobertos pelos colegas do trabalho ou pela família. É uma típica história de amor proibida, repleta de conflitos e um fim trágico. Um dos meus filmes favoritos sobre o tema.



 

Azul é a Cor Mais Quente (2013) – Obviamente que um dos filmes gay mais falado dos últimos tempos estaria nesta lista. Embora as cenas calientes entre mulheres curiosamente causem menos alvoroço que aquelas protagonizadas por homens, esse drama francês impressiona pela abordagem crua do tema e por apresentar uma das sequências de sexo lésbico mais longas e espontâneas da história do cinema. Adéle é uma garota de 15 anos, tímida e que parece se sentir sempre deslocada em relação ao restante do mundo, se apaixona por Emma, uma linda mulher de cabelos azuis com quem logo engata uma relação intensa. As descobertas de um novo mundo para Adéle preenche as três horas de duração do filme que além de edificar um retrato detalhado da protagonista, tem cenas marcantes como a do encontro do café e claro, as cenas tórridas de amor entre as duas.



Weekend (2011) - O amor entre dois homens masculinos e barbudos é o mote desse drama hiper realista.  O longa britânico narra a relação entre Glenn e Russell. Eles se conhecem numa balada e logo iniciam um relacionamento. Entre sexo, confidências e discussões, aos poucos vai ficando claras as diferenças que há entre eles. Dos filmes que retratam a temática homoafetiva, Weekend é o que mais se aproxima da realidade, com muita simplicidade e com apenas os dois protagonistas em cena, o drama se concentra precisamente na relação entre eles enquanto estão se conhecendo e descobrindo os pontos positivos e negativos de cada um. 



De Repente, Califórnia (Shelter, 2007) – Dos cinco filmes da lista, este é o único que não tem cenas de sexo, mas isso não o diminui de modo algum. Esta é uma pequena e admirável obra do cinema. A história é simples e comovente. Shelter acompanha a relação entre dois jovens surfistas, Zach e Shaun. Sem qualquer cena que possa ser considerada “imprópria” – nada que já não tenha sido mostrado na novela Amor à Vida e seriados por aí - Shelter trata com leveza a questão do preconceito e aborda o amor entre dois homens de uma forma que não constrange ninguém e de maneira sensível.

No post A Temática Gay no Cinema e na TV, você confere outros filmes imperdíveis e bem legais sobre a questão homoafetiva.

22 de maio de 2014

Praia do Futuro - O filme polêmico do ano



 
Uma história profunda e humana sobre a perda na vida de três homens, este é Praia do Futuro (2014), novo longa do cearense Karim Ainouz, responsável também pelos elogiados Madame Satã e O Céu de Suely.


Orquestrado de forma que as imagens e atitudes dos personagens dizem mais que os (poucos) diálogos, Ainouz traz à tela a história de Donato (Wagner Moura, muito à vontade no papel, inclusive nas cenas de sexo e nudez), um salva-vidas que atua na tal praia do título situada em Fortaleza. O início do filme já mostra Donato perdendo para o mar, ao não conseguir salvar um homem do afogamento. O ocorrido faz com que ele conheça o alemão Konrad (Clemens Schick, o ator participou de Cassino Royale), amigo da vítima, a quem o salva-vidas vai levar a má notícia.


Logo após a conversa entre eles, abruptadamente somos surpreendidos com a cena seguinte, um momento de sexo agressivo entre dois homens másculos e claramente bem resolvidos sexualmente. Impressionado, eu disse, não pela cena em si, mas pela forma natural com a qual o diretor decidiu abordar esta relação na telona. Ao invés de seguir o caminho óbvio, mostrar momentos de sedução entre os protagonistas antes do sexo, Karin espertamente preferiu “pegar” o espectador “no pulo” ao mostrar de cara, o ato físico cheio de testosterona e desejo entre eles. 

 Uma das cenas marcantes do longa


Donato e Konrad então iniciam um romance e ambos se mudam para a Alemanha. Donato então troca a ensolarada Fortaleza pela gelada e enevoada Berlim.  Praia do Futuro é dividido em três capítulos no qual acompanhamos o deslocamento do salva-vidas numa cidade sem praia, o sufoco da sua nova vida e a culpa que carrega consigo por ter abandonado sua mãe e seu irmão Ayrton, vivido por Jesuíta Barbosa (Tatuagem). 


Praia do Futuro é uma obra bastante introspectiva, daquelas que o espectador precisa se colocar no lugar do personagem para entender suas motivações e seus sentimentos, e como já disse antes, é bom prestar muita atenção no estado de espírito dos protagonistas e decifrá-los, pois não haverá diálogos para esclarecer tudo, como por exemplo, a cena em que os dois cantam e dançam é de uma beleza ímpar e demonstra o quanto eles estão felizes um com o outro.  Pra que palavras?


Com muita sutileza, o diretor fala sobre a reconstrução do homem, ou melhor, a reconstrução de uma vida, que no caso de Donato, tal transformação foi movida pelo medo, e no caso de Ayrton, seu irmão, movido pela coragem. 

 O elenco: Schick, Barbosa e Moura


A linda fotografia que contrasta o azul de Fortaleza e o cinza de Berlim, a predileção pelo visual em vez do verbal, a preferência por longos planos sem cortes e as muitas cenas marcantes como a do reencontro dos irmãos e a sequência final dos três homens viajando de moto desaparecendo em meio a uma densa névoa fazem de Praia do Futuro, uma obra humanizada e delicada, com um roteiro tão abstrato que chega a ser inadequado para o público que “urra de prazer” ao ver um Velozes e Furiosos ou Jogos Mortais, e deve ser exatamente esse tipo de gente que saiu do cinema “chocado” ao ver as cenas de sexo entre Wagner Moura e Clemens Schick. Olha, há cenas mais picantes que estas protagonizada por Lázaro Ramos em Madame Satã, e ninguém se deu conta né!


Homofobia e ignorância à parte - isso é assunto do meu próximo post – apenas espero que toda essa polêmica sirva para levar mais pessoas, esclarecidas espero, às salas de cinema e fazer de Praia, um filme de sucesso.


NOTA: 8,0

15 de maio de 2014

Godzilla (2014)





O retorno triunfante e arrasador do maior monstro do cinema é um fato, Godzilla (2014), de Gareth Edwards, deixa a versão de Roland Emmerich no chão, perto deste, o longa de 1998 é um playground cinematográfico protagonizado por um lagarto feito de plástico.


O obra é dividida em duas partes, antes de Godzilla ser um filme de monstros típico, é um drama emocionante e humano, representado pelos personagens de Bryan Cranston (sempre ótimo né!) e Aaron Taylor-Johnson (nosso eterno Kick-Ass). A paranoia de Joe (Cranston) com a verdadeira procedência de um acidente numa usina nuclear onde trabalhava anos atrás no Japão, leva-o a descobrir o que já temia, o “acidente” que vitimou a sua esposa não foi de ordem natural, mas sim, causado por um enorme animal furioso e sedento por energia nuclear.  

 Aaron Taylor vai à luta contra o Gojira


O Gojira demora mais de uma hora para surgir na tela completamente, até esse momento, Edwards nos brinda com cenas lindíssimas no qual a criatura se revela aos poucos, seja através de névoa, fumaça ou reflexos.  Mas quando ele aparece, o impacto e o assombro é inevitável. Godzilla é uma obra notável por inúmeros motivos, muitos deles nem todos perceberão, como o uso da cor vermelha na maioria das cenas numa referência à mitologia japonesa, por isso o estilo do monstro remete ao estilo da criatura clássica japonesa, a sequência em que soldados soltam de paraquedas com a fumaça vermelha colorindo o céu e prestes a cair na cidade devastada é de arrepiar e arrebatadora, a fotografia sombria, a trilha nervosa e o cenário desolador das cidades por onde os bichos passam - e que lembra muito a ambientação do famoso filme independente do diretor, Monstros (2010) - são outros acertos a destacar.


Edwards se preocupou bastante com as aparições do monstro gigante e com as batalhas entre as criaturas, sempre buscando ângulos e formas diferentes de mostrá-las, a única intenção aqui é a de maravilhar o espectador até o último minuto da fita. Ah, isso o diretor conseguiu louros, sai do cinema maravilhado com o Godzilla, tal deslumbramento não foi apenas pelo monstro em si, mas por todo o visual caprichado da produção e a composição das belas cenas de suspense.

Esse dá medo!

Só por deixar Nova York de fora da destruição, o filme já merece ser visto, Honolulu e Las Vegas são as cidades-alvos da vez. Ainda bem. Outra boa ideia do roteiro é que Godzilla não é exatamente o vilão da história, torci por ele em alguns momentos, ele está ali apenas buscando a sua presa, não para destruir pontes e prédios, o estrago feito é apenas consequência do seu tamanho colossal.


Círculo de Fogo foi o melhor filme catástrofe no ano passado, em 2014, Godzilla ganha esse título honrosamente, se o público comparecer às salas de cinema -  ou seja, se  for um sucesso provavelmente Hollywood não fará outro reboot em alguns anos - certamente essa obra tem tudo para ser o melhor filme do lagarto gigante já feito, mas algo é certo, é anos-luz superior ao longa do Emmerich.


NOTA: 9,0

7 de maio de 2014

Bates Motel - A segunda temporada





Atenção! Este texto contém leves spoilers, caso você ainda não viu a segunda temporada. 


Com a última cena fazendo uma referência explícita à fonte original, o filme Psicose, Bates Motel chega ao final de sua segunda temporada, cujo maior trunfo foi incrementar profundamente a relação doentia e destrutiva entre Norman e Norma Bates. Este é exatamente o foco que a série deve ter e a principal razão pelo qual eu, e muitos por aí, assistem ao programa, e isto faz desta segunda temporada, levemente superior ao primeiro ano do seriado.

O início da temporada foi um pouco confuso, é verdade, subtramas rápidas e um entra e sai de personagens que, embora pudessem ser bastante ricos na trama, saíram logo de cena e serviram apenas para preparar o terreno para o caos que estava por vir na família Bates. Neste ano, o motel ficou lotado, Norman (Freddie Highmore) teve uma namorada, sua paixão pela taxidermia ganhou mais destaque, Norma (Vera Farmiga) fez péssimas amizades e Dylan (Max Thieriot) se envolveu até o pescoço com os mafiosos locais.

 Um relacionamento doentio e carregado de mentiras

Mas o drama ganhou mais força quando focou no relacionamento entre mãe e filho. “Eu morrerei se você morrer, somos a mesma pessoa”, essa frase dita por Norma resume bem o que esta temporada nos preparou, a dependência de Norma e o controle exagerado que tem sobre o filho é tão forte que, ela não consegue separa as suas necessidades, das dele, e vice-versa. É um amor de mãe doentio, psicótico, destrutivo, e evidenciados em vários momentos na temporada, como na impressionante cena em que ela faz de tudo para que o filho tenha ciúmes dela contando sobre o seu “namorado” ou na chocante cena do beijo, no último episódio. Realmente, Norma não tem limites, é altamente instável, passional e carente demais.

Já que estamos falando da personagem, vou parabenizar a interpretação esplêndida de Vera Farmiga, ela “desaparece” na pele de Norma, tem feito um trabalho incrível e ímpar, daqueles que certamente vai marcar a sua carreira para sempre, assim como Harry Potter foi para Daniel Radcliffe.

O jovem Highmore não se deixa ofuscar pela companheira de cena, e nesta temporada ele demonstrou ser um ator ainda mais fascinante, Norman é um personagem muito complexo e com dupla identidade, e nem as covinhas do sorriso do garoto torna-o menos assustador, quando ele realmente precisa ser. E nesse ano, ele teve muitas chances de mostrar o seu lado obscuro. A cena em que ele enfrenta o seu tio, incorporando a mãe, é um dos melhores momentos da série. 

 Norman enclausurado

Agora que ele sabe de seu “probleminha psicológico” causador de seus apagões e que ele tem um instinto assassino dentro dele, a vida do rapaz daqui pra frente promete ficar cada vez mais complicada. Como ele vai lidar com os apagões? Como ele vai esconder das pessoas queridas o seu lado obscuro? Como Norma vai proteger seu filho e lidar com a psicopatia do rapaz? Qual será o seu papel dela na criação do assassino que Norman se tornará? Pois como sabemos, o destino de Norman está traçado e nele muito sangue escorrerá. 

Bates Motel teve uma segunda temporada reveladora e muito perturbadora e segue sendo uma série imperdível e de qualidade incontestável, e isto se deve em grande parte à dupla de protagonistas. Já ansioso pela próxima temporada.



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