Se na minha crítica de Ninfomaníaca Volume 1, eu finalizei o
texto todo esperançoso e pensando que a Parte 2 seria mais pungente e bem mais
superior que o Volume 1, caí bonito do cavalo (popularmente falando), as
expectativas não foram, nem de perto, correspondidas.
Ninfomaníaca Volume 2 (Nimphomaniac, 2014) peca,
principalmente, pela ausência das qualidades contidas no primeiro capítulo,
parece que parte da identidade do primeiro se perdeu, o tom é outro, não há
mais a ironia e as figuras ilustrativas
aludidas ao sexo, e até o próprio sexo foi diminuído. Bom, todo essa introdução
para dizer que o Volume 1, é mais parecido com um típico filme do Lars Von
Trier, é a melhor parte sem dúvida alguma, e se você quiser ver a continuação
porque quer saber como a história da ninfomaníaca termina, tudo bem, mas vai
com calma, abaixe suas expectativas.
No Volume 1, conhecemos a jornada
triste e constrangedora de Joe (Charlotte Gainsbourg, brilhante), seus casos sexuais,
sua relação com o pai e a busca pela satisfação sexual a todo custo. Agora, ela
tem de lidar com a sua insatisfação involuntária e física, consequência advinda
ironicamente de sua intensa e animalesca sede de sexo. Na parte 2, Joe luta
contra ela mesma, contra a degradação física e psicológica, e luta ainda contra
a sociedade que a rotula de viciada (e não como uma ninfomaníaca) taxando e
reduzindo-a a uma marginalizada, dentro de uma minoria incompreendida. “Sou uma
árvore disforme em um morro”, diz a própria protagonista.
Sadomasoquismo em vez do sexo
O capítulo 7 resume as melhores
partes do longa. É o momento em que Joe abre mão de sua maternidade para
priorizar o seu vício. Também é neste capítulo que estão as cenas mais
desconfortáveis e agonizantes, as cenas de sexo então são substituídas pelas de
sadomasoquismo. Joe se submete a um tratamento não convencional, a “técnica de
nós”, perpetrada por P (Jamie Bell, surpreendente) e o resultado é uma sequência
de momentos dolorosos - para nós também - no qual assistimos a degradação da
personagem.
Já o capítulo final de Ninfomaníaca
destoa um pouco da obra de um modo geral, parece outro filme, mas com a mesma
personagem. Cansativo e com uma “desculpa" forçada para colocar a personagem no
chão ensanguentada, lá na cena que inicia o Volume 1. Ainda que contenha boas ideias, este capítulo se reestruturado, poderia funcionar melhor, mas parece que foi escrito às pressas. No entanto, acho que Lars estava mais preocupado com o fim - e não com o meio – que pretendia chegar
e assim, causar um choque no público. Considerando a reputação do diretor, eu
até estava esperando algo “fora do comum” no desfecho.
Jamie Bell em participação marcante
Vale destacar também que Seligman
(Stellan Skarsgard), tornou-se mais interessante e relevante na trama, que bom o personagem não serve somente de ouvinte para a sua amiga
viciada em sexo.
Com o foco na desconstrução
e na reconstrução da personagem principal acerca da sua identidade e sua
relação com o mundo, o Volume 2 tem mais falhas que acertos, e unir os dois volumes
em um só filme ainda não daria certo, a obra continuaria irregular, com altos e
baixos, mas o que vale mesmo é o estudo feito pelo diretor sobre o sexo, o corpo e o olhar da sociedade para
pessoas como a Joe, inserida numa posição de minoria, tratada como uma mulher
que tem uma doença, mas como a própria personagem percebe, ela é uma
ninfomaníaca, foi e sempre será. A questão apresentada neste capítulo é se ela –
e não os outros – se aceita assim, ou não.
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